Enquanto uma operação de alto nível desarticulava uma
organização criminosa na elite financeira paulista sem um único tiro, o Morro
do Alemão, no Rio de Janeiro, era palco de mais um episódio de violência
estatal com centenas de mortos e corpos abandonados. A diferença entre esses
dois eventos revela uma realidade cruel: a segurança pública no Brasil tem dois
pesos e duas medidas.
A Operação "Limpa" na Faria Lima
Na chamada Operação Carbono Oculto, as agências
de segurança agiram com precisão cirúrgica. Participaram Polícia
Federal, Ministério Público, Receita Federal e Promotoria, em uma ação que:
- Bloqueou R$
     52 bilhões em bens
- Desarticulou
     uma das maiores organizações criminosas do país
- Não
     registrou um único disparo
- Não
     houve nenhuma morte
A operação, que mirou o coração financeiro do crime
organizado, passou relativamente despercebida na grande mídia e não gerou
manifestações de parlamentares da extrema direita.
A Tragédia Anunciada no Alemão
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a ação policial no Morro
do Alemão sob o comando do governador Cláudio Castro seguiu
o roteiro trágico de sempre:
- Centenas
     de mortos
- Corpos
     abandonados nas ruas
- Cena
     de corpos decapitados foi comparada a práticas de grupos
     extremistas
Declarações polêmicas e violação do luto
Em meio ao caos, a ação do Estado foi além da letalidade:
atingiu a dignidade dos que choravam seus mortos. Familiares que tentavam
resgatar corpos de vítimas foram tratados como infratores  o secretário de segurança do Rio de Janeiro, ameaçou processá-los por “alterar a cena do crime”.
Familiares que procuravam os parentes mortos, relataram
corpos decapitados o que assemelha a táticas usadas por grupos terroristas como
Hamas e Al-Qaeda. 
No entanto, especialistas em segurança e direitos humanos
questionam a narrativa:
“Decapitações não são práticas comuns na ação do Governo do Estado do Rio de
Janeiro. Se ocorreram, é preciso investigar com transparência: foram realizadas
por quem? Em que contexto? A resposta do Estado não pode ser a simplificação
que apenas alimenta o ciclo de violência”, afirma um pesquisador do Laboratório
de Análise da Violência da UERJ.
Enquanto isso, o abatimento superou em número a
apreensão de armas: 121 pessoas mortas 113 presas, ante 93 armas
capturadas. Ou seja, mais vidas foram eliminadas do que instrumentos de
violência recolhidos um desequilíbrio que expõe a opção pelo extermínio, e
não pelo controle.
O Silêncio dos "Heróis"
Chama atenção o silêncio seletivo de parlamentares que usualmente se manifestam sobre segurança pública. Enquanto operações em favelas geram correntes de apoio e declarações inflamadas, a bem-sucedida operação na Faria Lima que atingiu o crime em seu coração financeiro passou em relativo silêncio.
O Caminho para Mudar
É urgente repensar o modelo de segurança pública, baseando-o
em:
- Inteligência em
     vez de força bruta
- Proporcionalidade nas
     ações
- Respeito
     aos direitos humanos em todas as operações
- Fim
     da seletividade no combate ao crime
Até que isso aconteça, continuaremos vivenciando essa triste
realidade onde o valor de uma vida depende do CEP onde ela habita.
Matéria do Radialista e estudante de Jornalismo
Claudio Ramos
 
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