quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Das Favelas do Alemão, Penha à Faria Lima: A Segurança Pública de Duas Caras no Brasil

 



Enquanto uma operação de alto nível desarticulava uma organização criminosa na elite financeira paulista sem um único tiro, o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, era palco de mais um episódio de violência estatal com centenas de mortos e corpos abandonados. A diferença entre esses dois eventos revela uma realidade cruel: a segurança pública no Brasil tem dois pesos e duas medidas.

A Operação "Limpa" na Faria Lima

Na chamada Operação Carbono Oculto, as agências de segurança agiram com precisão cirúrgica. Participaram Polícia Federal, Ministério Público, Receita Federal e Promotoria, em uma ação que:

  • Bloqueou R$ 52 bilhões em bens
  • Desarticulou uma das maiores organizações criminosas do país
  • Não registrou um único disparo
  • Não houve nenhuma morte

A operação, que mirou o coração financeiro do crime organizado, passou relativamente despercebida na grande mídia e não gerou manifestações de parlamentares da extrema direita.

A Tragédia Anunciada no Alemão

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a ação policial no Morro do Alemão sob o comando do governador Cláudio Castro seguiu o roteiro trágico de sempre:

  • Centenas de mortos
  • Corpos abandonados nas ruas
  • Cena de corpos decapitados foi comparada a práticas de grupos extremistas

Declarações polêmicas e violação do luto

Em meio ao caos, a ação do Estado foi além da letalidade: atingiu a dignidade dos que choravam seus mortos. Familiares que tentavam resgatar corpos de vítimas foram tratados como infratores  o secretário de segurança do Rio de Janeiro, ameaçou processá-los por “alterar a cena do crime”.

Familiares que procuravam os parentes mortos, relataram corpos decapitados o que assemelha a táticas usadas por grupos terroristas como Hamas e Al-Qaeda.

No entanto, especialistas em segurança e direitos humanos questionam a narrativa:
“Decapitações não são práticas comuns na ação do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Se ocorreram, é preciso investigar com transparência: foram realizadas por quem? Em que contexto? A resposta do Estado não pode ser a simplificação que apenas alimenta o ciclo de violência”, afirma um pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da UERJ.

Enquanto isso, o abatimento superou em número a apreensão de armas: 121 pessoas mortas 113 presas, ante 93 armas capturadas. Ou seja, mais vidas foram eliminadas do que instrumentos de violência recolhidos um desequilíbrio que expõe a opção pelo extermínio, e não pelo controle.

O Silêncio dos "Heróis"

Chama atenção o silêncio seletivo de parlamentares que usualmente se manifestam sobre segurança pública. Enquanto operações em favelas geram correntes de apoio e declarações inflamadas, a bem-sucedida operação na Faria Lima que atingiu o crime em seu coração financeiro passou em relativo silêncio.

O Caminho para Mudar

É urgente repensar o modelo de segurança pública, baseando-o em:

  • Inteligência em vez de força bruta
  • Proporcionalidade nas ações
  • Respeito aos direitos humanos em todas as operações
  • Fim da seletividade no combate ao crime

Até que isso aconteça, continuaremos vivenciando essa triste realidade onde o valor de uma vida depende do CEP onde ela habita.


Matéria do Radialista e estudante de Jornalismo 

Claudio Ramos


 

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