quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Superlotação, violência e formação de facções: os alertas do sistema prisional brasileiro

 




Zerar o déficit de vagas nos presídios brasileiros exigiria um investimento estimado de R$ 14 bilhões, segundo cálculo da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). O valor seria suficiente para a construção de novas unidades com capacidade para 202 mil vagas, mas não inclui os custos permanentes de manutenção e custeio.

“Seriam necessários recursos para investimento e construção de unidades para suprir esse déficit de 200 mil vagas. E, por óbvio, precisaríamos de mais verba para custeio, contratação de policiais penais, alimentação, energia e toda a operação”, afirmou o diretor de inteligência da Senappen, Antônio Glautter.

O país possui hoje 702 mil pessoas privadas de liberdade, distribuídas em 1.375 unidades prisionais, que somam um déficit de 40%. O Brasil mantém a terceira maior população carcerária do planeta, atrás somente dos Estados Unidos e da China.

Para efeito de comparação, o valor de R$ 14 bilhões se aproxima dos R$ 12 bilhões que a Polícia Federal estima terem sido desviados na suposta fraude do Banco Master, revelada nesta terça-feira o que ilustra a dimensão dos recursos necessários para enfrentar o colapso prisional.

Quando o descaso vira fábrica de facções

Especialistas afirmam que o problema brasileiro vai muito além da falta de vagas. A história recente mostra que foram justamente os presídios desestruturados que serviram de terreno fértil para o surgimento das duas maiores facções criminosas do país.



Comando Vermelho (CV): origem na convivência forçada

O Comando Vermelho nasceu nos anos 1970, dentro da penitenciária da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. A ditadura militar colocou presos comuns e presos políticos na mesma galeria.

A convivência levou à troca de ideias: enquanto os militantes ensinavam organização, disciplina e solidariedade, os criminosos comuns absorviam estratégias coletivas de resistência. A aliança evoluiu para um grupo estruturado que passou a dominar o crime no Rio.

Não foi um projeto; foi fruto direto do abandono estatal, que misturou perfis criminais incompatíveis e manteve presos em condições degradantes.

PCC: reação à violência do Estado

Já o Primeiro Comando da Capital (PCC) surgiu em 1993, no presídio de Taubaté, em São Paulo, conhecido como "Piranhão". O estopim foi uma rebelião e a denúncia da brutalidade imposta pelo sistema, poucos meses após o massacre do Carandiru, que matou 111 detentos.

O PCC nasceu como uma resposta à violência policial e penitenciária. Com regras rígidas, sistema de apoio jurídico e financeiro entre seus membros, a facção cresceu aproveitando exatamente os espaços deixados pela falta de políticas públicas de segurança e ressocialização.

Prende muito e prende mal

A soma de todos esses fatores leva a uma conclusão repetida por especialistas: a polícia brasileira prende muito e prende mal.

O problema não é apenas o número de prisões, mas a falta de:

  • políticas de ressocialização,

  • educação e qualificação profissional nas unidades,

  • acompanhamento psicológico,

  • atendimento jurídico eficiente,

  • articulação entre políticas sociais e prevenção ao crime.

A consequência é clara: o sistema não reduz o crime ele o multiplica

Matéria produzida por Claudio Ramos

Radialista e estudante de Jornalismo


sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Quem Tem Medo de um Brasil Educado?

 



Durante o evento, o Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou:

“A gente está dando uma coisa pra vocês que é fundamental: ferramenta. Cê sabe que o mercado é cada vez mais exigente, mais seletivo e menos desapegado com os diplomas. Diploma, cada vez de menor relevância, a competência tem cada vez mais relevância. O mercado está cada vez mais interessado em saber o seguinte: quais são suas habilidades e menos interessado onde você se formou. O mercado está cada vez mais interessado em: você consegue se comunicar? Você consegue se relacionar com as pessoas? Você tem habilidade de relações interpessoais? Você consegue resolver problemas? É este o profissional que eu quero.”


Governador de SP Tarcisio de Freitas




Contraponto: por que essa narrativa preocupa

A declaração do governador não é isolada. Ela compõe um discurso que tem sido recorrente na extrema-direita, tanto no Brasil quanto em outros países, e que opera com uma lógica perigosa: desestimular a formação acadêmica e relativizar o valor da educação formal.

Isso é particularmente grave num país como o Brasil, onde a história mostra que a educação nunca foi acessível de forma igualitária. Por décadas, quem pertence às elites e à burguesia sempre teve acesso privilegiado ao ensino de qualidade, inclusive no exterior, enviando filhos para estudar na Europa e nos Estados Unidos, garantindo-lhes acesso às melhores vagas, aos melhores salários e às posições de liderança.

Enquanto isso, às camadas populares restava o “chão de fábrica”, os trabalhos manuais e subalternos, marcados pela desigualdade estrutural e pela falta de oportunidades educacionais.

Nesse contexto, reduzir o valor dos diplomas e exaltar apenas a “competência prática” soa como um discurso hipócrita especialmente vindo de lideranças políticas que não investem na ampliação do acesso à educação pública, nem defendem condições para que os jovens possam, de fato, desenvolver competências e habilidades de forma integral.

Na prática, é um discurso que naturaliza a desigualdade:

  • Quem nasceu com privilégios seguirá estudando nas melhores instituições.
  • Quem depende da escola pública será empurrado a “não precisar de diploma”.

Esse caminho só reforça as diferenças históricas.



O caminho oposto: os investimentos do Governo Federal

Enquanto isso, o Governo Federal, sob a liderança do Presidente Lula e com a condução do Ministro da Educação, Camilo Santana, adota uma direção diametralmente oposta.
Este governo aposta no fortalecimento da educação como eixo estruturante de desenvolvimento, com ações como:

  • Ampliação dos investimentos da creche ao ensino superior.
  • Estratégia nacional de escola em tempo integral.
  • Retomada do Fies, Reuni II e expansão de universidades e institutos federais.
  • Políticas de alfabetização e formação docente inspiradas no modelo de sucesso do Ceará, que transformou a educação básica e hoje é referência nacional.

É um projeto de país que compreende que educação não é gasto  é investimento, e que nenhuma sociedade se desenvolve sem garantir aos seus jovens acesso pleno ao conhecimento científico, tecnológico e cultural.

Dois projetos antagônicos para o Brasil

A fala de Tarcísio expõe o choque entre dois projetos em disputa:

1. O projeto da direita

  • Minimiza o valor da formação acadêmica.
  • Naturaliza que “competência” basta  sem considerar as desigualdades de acesso.
  • Reduz o papel do Estado na educação.
  • Reforça a lógica elitista de que diploma é dispensável, mas apenas para os pobres.

2. O projeto progressista

  • Defende a educação como instrumento de liberdade individual e social.
  • Trata o acesso ao estudo como direito.
  • Investe de forma ampla, sistemática e contínua.
  • Reconhece que os países modernos e desenvolvidos chegaram onde estão investindo massivamente na educação pública.

No fundo, a disputa é sobre qual modelo de sociedade queremos:
Uma que diminui a escola ou uma que liberta pelo conhecimento?

A História já deu essa resposta:
O conhecimento liberta e sempre libertará.

 

Claudio Ramos

Radialista e estudante de Jornalismo.

 

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

O preço do analfabetismo político no Brasil

 


Analfabetismo político é a falta de conhecimento e engajamento na vida política, que vai além da capacidade de ler e escrever, abrangendo a incapacidade de compreender o processo político, seus direitos e responsabilidades como cidadão. Ele se manifesta pela alienação, ignorância sobre o impacto das decisões políticas no dia a dia (como custo de vida) e manipulação por informações falsas, o que prejudica a cidadania e a democracia, conforme descrito no artigo atribuído a Bertolt Brecht. 

Senadores ganham R$ 46 mil, deputados também. Prefeitos e vereadores variam de cidade para cidade, mas seus salários estão sempre muito acima da realidade da maioria do povo brasileiro.

Enquanto isso, o trabalhador que sustenta toda essa máquina pública enfrenta jornadas exaustivas para receber R$ 1.518 por mês, o salário mínimo nacional. É ele quem paga, com seu suor e seus impostos, as contas de um sistema que raramente o representa de verdade.

Mesmo assim, ainda há quem defenda político como se fosse parente, como se o destino de quem está no poder estivesse diretamente ligado ao bem-estar de quem está nas ruas, nos ônibus lotados e nos bairros esquecidos.

Esse comportamento revela uma das maiores tragédias da democracia brasileira: o analfabetismo político. Ele não se resume à falta de leitura ou estudo, mas à incapacidade de compreender como o poder funciona, quem se beneficia dele e quem paga a conta.

O cidadão que idolatra políticos sejam eles de esquerda ou de direita abre mão do papel mais importante que tem: o de cobrar, fiscalizar e exigir resultados. É essa cegueira coletiva que mantém o país refém de discursos vazios, promessas repetidas e privilégios eternos.

Platão já alertava há mais de dois mil anos:

“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam.”

Acorda, meu caro. Eles não estão no mesmo time que você.
O poder só muda quando o povo deixa de aplaudir e passa a cobrar.

Começam as contratações para o Hospital Regional do Maciço de Baturité

 



Governo do Ceará deve lançar nos próximos dias a ordem de serviço que marcará o início oficial das obras

O sonho do Hospital Regional do Maciço de Baturité (HRMB) começa a se tornar realidade. Já teve início o processo de contratação dos trabalhadores que atuarão nas obras de construção do hospital.

A informação foi repassada na manhã desta quarta-feira (12), durante entrevista no Programa 94 NEWS, apresentado por Cláudio Ramos e Antônio Pedro, pelo Assessor de Comunicação da Prefeitura de Baturité, Jean Martins.

Segundo Jean Martins, os interessados devem se dirigir ao local da obra e procurar o senhor Assis, responsável pelo processo de seleção dos trabalhadores. As contratações estão sendo realizadas de forma imediata e com todas as garantias trabalhistas asseguradas.

Nos próximos dias, o Governo do Ceará deverá lançar a ordem de serviço que marcará oficialmente o início das obras do hospital, um dos mais esperados investimentos públicos na área da saúde para o Maciço de Baturité.

A construção do HRMB representa um marco histórico para a região, ampliando o acesso da população a serviços de média e alta complexidade e fortalecendo a rede pública de saúde do Estado.

👉 É o começo de uma história que acompanharemos passo a passo, capítulo por capítulo, registrando cada avanço dessa grande conquista para o povo do Maciço.

O Ceará segue avançando, e Baturité celebra mais um passo importante rumo ao desenvolvimento regional e à melhoria da qualidade de vida de sua população.

Por Cláudio Ramos – Programa 94 NEWS

Radialista e estudante de Jornalismo

domingo, 9 de novembro de 2025

Antes do PT, o Brasil era um paraíso sem corrupção?

 



Por Claudio Ramos – Radialista e estudante de Jornalismo

Há quem diga que a corrupção no Brasil começou com o Partido dos Trabalhadores. Essa narrativa, repetida à exaustão, ganhou força no discurso da direita brasileira e, com ainda mais intensidade, na extrema direita, que tenta transformar a indignação popular em instrumento de manipulação política.
É um discurso simples, mas poderoso: aponta o dedo, cria um inimigo e apaga a memória coletiva de um país historicamente desigual e injusto.

Se a corrupção tivesse começado com o PT, por que o Brasil passou séculos como país do “terceiro mundo”, explorado, desigual e excludente?
Por que nossos pais e avós nunca tiveram acesso ao ensino superior?
Por que o Nordeste foi deixado à própria sorte, convivendo com a seca, a fome e a miséria, enquanto elites concentravam poder e riqueza nas capitais do Sudeste?

Antes do PT, o país tinha mar de favelas, crianças fora da escola, universidades elitizadas, povo nordestino abandonado e trabalhadores sem direitos.
Não era corrupção? Ou será que era apenas uma corrupção silenciosa a corrupção das elites, que roubavam oportunidades, negavam políticas públicas e vendiam o Brasil como se fosse propriedade privada?

A verdade é que a direita brasileira governa o país há mais de 500 anos.
E se é tão “honesta” quanto afirma ser, por que não transformou o Brasil antes?
Por que o povo só começou a entrar na universidade, comprar casa, ter acesso à luz, à água e a crédito depois que a classe trabalhadora chegou ao poder?

O problema é que, pela primeira vez, os que sempre estiveram nas sombras passaram a ser vistos. E isso incomoda.
Incomoda porque revela que o verdadeiro roubo sempre foi outro: o roubo de direitos, de dignidade e de esperança.

A extrema direita, incapaz de propor um projeto de nação, usa o ódio e o medo como ferramentas políticas.
Faz da palavra “corrupção” um escudo para esconder suas próprias práticas, seus privilégios e suas alianças com s verdadeiros donos do poder.
Enquanto isso, o país segue dividido entre os que acreditam em frases de efeito e os que ainda têm coragem de olhar para a história.

Se não havia corrupção antes, então o que fizeram com o dinheiro que deveria ter mudado a vida do povo brasileiro?
Talvez a resposta esteja justamente no medo que as elites têm de um país onde o pobre não se ajoelha mais.

sábado, 8 de novembro de 2025

A Favela Sob Tiroteio: Quando o Estado Escolhe Quem Deve Morrer

 



Por Claudio Ramos – Radialista e estudante de Jornalismo

A operação que terminou com 121 mortos expõe mais uma vez a face brutal de um país que se recusa a enfrentar as causas reais da violência.

A operação policial realizada em 28 de outubro de 2025, nas favelas da Penha e do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, terminou com 121 mortos, entre eles quatro policiais.


Um número que, por si só, já é o retrato de uma tragédia anunciada. Mas por trás desses números frios, há histórias interrompidas, famílias destruídas e uma ferida social que se renova a cada incursão armada nas periferias do país.

O episódio reacendeu um debate que divide o Brasil: de um lado, os que enxergam na ação policial uma “guerra justa” contra o crime; de outro, os que denunciam o massacre de uma população que já vive sob o jugo da pobreza, da ausência do Estado e da violência cotidiana.




O que muitos chamam de “combate ao tráfico”, outros reconhecem como política de extermínio  direcionada, quase sempre, ao mesmo grupo social: negros, pobres e favelados.

O Comando Vermelho, facção que domina grande parte das favelas cariocas, é apresentado como o inimigo a ser eliminado. Mas a pergunta que ecoa é: quem alimenta esse inimigo?


A resposta é incômoda. O tráfico nasce e cresce nos becos onde o Estado não chega  onde não há escola de qualidade, posto de saúde, saneamento, lazer ou emprego digno.
Onde o único rosto do poder público é o do policial fortemente armado que entra, atira e sai, deixando corpos e medo.

Enquanto isso, milhares de mães vivem a rotina exaustiva de uma jornada 6x1, saindo de casa antes do amanhecer e voltando à noite, depois de enfrentar até duas horas de transporte precário.


No caminho, deixam os filhos sozinhos, expostos ao cotidiano da favela  um espaço onde o tráfico impõe regras, exibe armas e vende a ilusão de poder e pertencimento.
É nesse vácuo deixado pelo Estado que o crime se infiltra e seduz. Não por escolha, mas por sobrevivência.

Ainda assim, o discurso fácil da extrema direita prospera: “bandido bom é bandido morto.”
É uma narrativa que ignora a complexidade social e transforma a vida de jovens periféricos em estatística descartável.


É mais fácil justificar o tiro do que construir uma política pública.
É mais fácil aplaudir a morte do que cobrar investimentos em educação, cultura e trabalho.
É mais fácil culpar a favela do que admitir que ela é o espelho mais fiel da desigualdade brasileira.

A tragédia da Penha e do Alemão não é um episódio isolado.
É o retrato de um país que naturalizou a morte dos seus pobres e se recusa a enfrentar as causas reais da violência.


Enquanto a polícia continuar sendo o único braço visível do Estado nas favelas, o ciclo da morte vai se repetir e cada operação será mais uma sentença coletiva contra um povo que só queria o direito de viver

Baturité, 08/11/2025.

 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

A Fé e o Poder: a interferência religiosa na política brasileira

 



Nas últimas décadas, a presença organizada e visível de segmentos evangélicos na política brasileira deixou de ser um fenômeno isolado para tornar-se uma força estruturada no Congresso, em governos e em agendas públicas. Essa influência não é apenas numérica traduzida pelo crescimento da chamada “bancada evangélica”, mas também programática: grupos religiosos passaram a disputar diretamente a formulação de políticas sobre educação, direitos reprodutivos, direitos LGBTQIA+, segurança pública e cultura moral. Pesquisadores e institutos internacionais têm destacado esse movimento como uma transformação significativa do campo político brasileiro. 

Há um aspecto explícito e retórico nesse processo: lideranças e correntes evangélicas passaram a reivindicar um papel público mais assertivo, com discursos que chegam a declarar que “chegou a hora” da igreja governar ou orientar políticas públicas, o que expressa uma visão de atuação que vai além da mera presença eleitoral, trata-se de reivindicar legitimidade normativa para impor valores religiosos no espaço laico do Estado. Esse diagnóstico não é mera retórica jornalística: estudos etnográficos documentam discursos e práticas que visam ampliar o papel político das igrejas evangélicas. 



Exemplos recentes e concretos: legislação e pautas

Um exemplo paradigmático do tipo de iniciativa legislativa apoiada por parlamentares alinhados a pautas religiosas conservadoras é o Projeto de Lei nº 1.904/2024 (PL 1904/24), que propôs equiparar o aborto após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples  inclusive nos casos de gravidez resultante de estupro e, assim, restringir fortemente as exceções previstas no ordenamento jurídico brasileiro. A proposição gerou forte reação de organismos de direitos humanos, de profissionais de saúde e de movimentos de defesa dos direitos reprodutivos, por representar retrocessos nas garantias de atendimento a vítimas de violência sexual. 

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), religioso e parlamentar associado a pautas conservadoras, foi autor/relacionado a iniciativas desse tipo  o que exemplifica como parlamentares com perfil religioso podem converter convicções morais em projetos de lei que alteram direitos civis. A tramitação e a publicidade em torno desses projetos (e as propostas subsequentes de “compensação” como aumento de pena para estupradores) ilustram uma estratégia legislativa dupla: restringir direitos reprodutivos e, ao mesmo tempo, buscar medidas punitivas que sirvam para legitimar politicamente o recuo nas exceções. As discussões em torno do PL e as tentativas de articulação parlamentar geraram amplo debate e críticas na imprensa e em setores da sociedade. 

Outro episódio representativo foi a mobilização parlamentar para sustar diretrizes do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) relativas ao atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, com projetos aprovados em plenário que dificultam o acesso ao aborto legal dessas vítimas. Votações com ampla maioria sobre temas dessa natureza mostram que a agenda conservadora, em grande medida articulada por parlamentares alinhados a grupos religiosos, tem eficácia prática em aprovar medidas que alteram o cotidiano jurídico e institucional da proteção a direitos. (Registro de votação e notícias da Câmara em novembro de 2025 evidenciam essas movimentações.) 



Impactos concretos sobre minorias e sobre a laicidade

As iniciativas acima não são neutras: atingem desproporcionalmente mulheres pobres, negras e meninas  grupos que estatisticamente sofrem maior incidência de violência sexual e possuem menos acesso a serviços de saúde e ao sistema de justiça. Ao propor retrocessos nas condições de acesso ao aborto legal ou dificultar protocolos de atendimento, a legislação em debate pode transformar uma questão de saúde pública em um vetor de desigualdade e violência institucional.

Além disso, a tentativa de impor normas de cunho religioso ao conjunto da sociedade confronta diretamente o princípio constitucional da laicidade do Estado: quando políticas públicas são projetadas para refletir doutrinas religiosas específicas e não a universalidade dos direitos civis, corre-se o risco de criar privilégios normativos para determinados grupos de fé e de restringir a liberdade de crença, de culto e a diversidade de convicções no espaço público.

Estratégias políticas e simbólicas

A presença evangélica na política se operacionaliza em várias frentes: proposição de leis (como as descritas), nomeações em cargos públicos, mobilização de bases congregacionais para pressionar parlamentares e uso de rádios, canais e redes sociais ligados a igrejas para difundir pautas e narrativas. O resultado é uma visibilidade e capacidade de agenda que dificilmente se restringe ao âmbito confessionário  ela redefine prioridades do debate público. Pesquisas e relatórios analisam essa convergência entre organização religiosa e correlação eleitoral como uma fonte de poder político crescente. 



Hipocrisia e contradições na retórica política

Um padrão recorrente nas resistências críticas é a contradição entre o discurso moralizador e atitudes concretas: enquanto alguns líderes religiosos advogam publicamente por “valores da família” e por proteção às crianças, certas proposições legislativas resultam em políticas que aumentam o sofrimento de vítimas (por exemplo, restringindo o acesso a serviços de saúde essenciais após violência sexual). Essa dissonância  entre a retórica de defesa dos “valores” e os efeitos práticos das medidas propostas  é frequentemente apontada por organizações de direitos humanos, profissionais da saúde e juristas como um exemplo de hipocrisia política: o discurso de proteção se converte, legislativamente, em desproteção efetiva. Relatos jornalísticos e notas técnicas de organismos especializados documentam esse confronto entre discurso e impacto. 

Perspectiva crítica final

A interseção entre política e religião é complexa e historicamente presente em muitas sociedades; contudo, quando projetos orientados por convicções religiosas buscam moldar o Estado a partir de um único padrão moral, corre-se o risco de minar liberdades individuais, pluralismo e direitos fundamentais. O desafio democrático consiste em equilibrar a participação legítima de cidadãos religiosos na política com a preservação de um Estado que proteja direitos universais sem subordinar-se a prescrições confessionais específicas.

Isso exige, na esfera pública e acadêmica, a vigilância sobre projetos legislativos, a produção de evidências sobre seus impactos (principalmente sobre populações vulneráveis) e a articulação entre movimentos sociais, instituições científicas e atores jurídicos para defender a laicidade e os direitos humanos. Sem esse contraponto, medidas aparentemente “morais” podem se traduzir em retrocessos concretos para grandes parcelas da população.


Referências selecionadas (fontes consultadas)

  • Análise sobre a influência crescente dos evangélicos na política (instituto/think tank): SWP — German Institute for International and Security Affairs. Stiftung Wissenschaft und Politik (SWP)

  • Etnografia e análise sobre o discurso “é hora da igreja governar”: artigo publicado na SciELO. SciELO

  • Projeto de Lei nº 1904/2024 (PL que equipara aborto após 22 semanas a homicídio) — registro e matéria da Câmara dos Deputados. Portal da Câmara dos Deputados+1

  • Cobertura jornalística e votação sobre projetos que dificultam o aborto legal para crianças e adolescentes vítimas de estupro (ex.: CartaCapital, Gazeta do Povo, CNN Brasil). CartaCapital+2Gazeta do Povo+2

  • Notas e manifestações de setores de direitos humanos e instituições acadêmicas sobre efeitos dos projetos (ex.: notas de repúdio e análises do FBSP e universidades). Serviços e Informações do Brasil+1



Matéria, pesquisa por Claudio Ramos
Radialista e estudante de Jornalismo

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Comparativo internacional: taxa de habitação própria nos Estados Unidos, Brasil e China



A posse da casa própria é um dos principais indicadores de estabilidade econômica e social de uma população. No entanto, esse índice varia significativamente entre países, refletindo diferenças culturais, políticas habitacionais, níveis de renda e acesso ao crédito.

Nos Estados Unidos, segundo o US Census Bureau e o Federal Reserve, cerca de 65% das famílias possuíam casa própria em 2025. O índice tem se mantido estável nas últimas décadas, oscilando entre 63% e 67%. Essa taxa é considerada moderada para uma economia desenvolvida, em parte porque o país possui um mercado de aluguel muito ativo e políticas de mobilidade residencial que favorecem mudanças constantes de moradia, conforme o emprego ou o custo de vida.



No Brasil, dados do IBGE (2024) mostram que 61,6% dos domicílios são próprios e já quitados. Além disso, cerca de 6% estão em processo de financiamento, o que eleva o total de habitações próprias (quitadas ou financiadas) para aproximadamente 67%. O país tem avançado de forma consistente no acesso à moradia digna, sobretudo por meio de políticas públicas voltadas à população de baixa renda. O Programa Minha Casa, Minha Vida, criado em 2009 e relançado em 2023 pelo governo federal, tem oportunizado a aquisição da casa própria para milhões de brasileiros, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde o déficit habitacional é historicamente maior. Essa iniciativa tem sido fundamental para garantir dignidade e segurança a famílias que antes viviam em condições precárias ou de aluguel.

Residências na China, modelo socialista


Já na China, o cenário é bastante diferente. O país apresenta uma das maiores taxas de habitação própria do mundo, com índices que variam entre 89% e 96%, de acordo com o People’s Bank of China e dados do Trading Economics. O elevado percentual é resultado de uma combinação de fatores: forte valorização cultural da propriedade imobiliária, políticas governamentais de incentivo à compra de moradias e baixa dependência do mercado de aluguel. A propriedade da casa é vista na sociedade chinesa como símbolo de estabilidade familiar e condição quase obrigatória para o casamento, o que impulsiona o desejo de compra.

Em síntese, enquanto os EUA apresentam um modelo mais flexível e dependente do crédito, o Brasil busca consolidar políticas habitacionais que ampliem o direito à moradia  com destaque para o Minha Casa, Minha Vida, e a China exibe uma sociedade fortemente voltada à aquisição da casa própria. Os números revelam não apenas realidades econômicas distintas, mas também diferentes formas de encarar a moradia como valor social, cultural e político.


Matéria e pesquisa por Claudio Ramos

Radialista e Estudante de Jornalismo

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Quando o povo decide, o Brasil melhora

 


A direita mandou. A esquerda transformou.

Quando o povo escolhe, o Brasil avança.

Desde a redemocratização, o voto livre do povo brasileiro revelou uma tendência clara: a esperança e o compromisso social vencem o discurso do medo.
Em um país historicamente dominado por elites políticas e econômicas onde 84% dos presidentes foram de direita, 6% de centro e apenas 10% de esquerda, os maiores avanços sociais, econômicos e educacionais surgiram justamente nos períodos em que a esquerda chegou ao poder.



Os governos de Lula e Dilma Rousseff transformaram o Brasil em um país mais inclusivo, reconhecido internacionalmente por tirar mais de 30 milhões de pessoas da pobreza, levar energia elétrica a milhões de lares, ampliar o acesso à universidade e garantir comida na mesa do trabalhador. Foram conquistas construídas sob o olhar da maioria, e não dos privilégios.

Enquanto isso, a direita, que dominou mais de um século de poder político, manteve o Brasil preso a ciclos de desigualdade, concentração de renda e retrocessos democráticos.
A diferença entre “mandar” e “transformar” está justamente aí: quem governa para poucos mantém o atraso; quem governa para todos muda a história.



Mesmo com o forte lobby das elites e o poder da grande mídia, o povo brasileiro mostrou, nas urnas, que acredita em políticas públicas e não em promessas vazias.
A vitória da esquerda nas urnas  de Lula em 2002, 2006 e 2022, e de Dilma em 2010 e 2014 — representa mais que vitórias partidárias: é a reafirmação da vontade popular por um país mais justo, solidário e humano.



A história republicana desmente o mito da incompetência da esquerda

Ao longo de 136 anos de República, o Brasil teve mais de 30 presidentes, dos quais apenas três foram de esquerda  e todos eles eleitos democraticamente pela maioria da população. Mesmo assim, esses governos foram os que mais investiram em educação, moradia, saúde e inclusão social.

Nos governos Lula e Dilma:

  • O PIB cresceu mais de 40% em uma década, com geração de 20 milhões de empregos formais;
  • O salário mínimo teve valorização real acima de 70%;
  • O Bolsa Família se tornou referência mundial de combate à pobreza;
  • Programas como Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos, Mais Médicos, Prouni e Fies abriram portas e mudaram vidas;
  • O Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU e passou a ser exemplo internacional de inclusão social.
  • Mais especialistas, Pé-de-meia, Brasil sorridente, Isenção de IR para quem ganha até 5 mil.

Esses números contrastam fortemente com períodos de governos de direita, marcados por crises econômicas, desemprego em massa, privatizações sem retorno social e cortes em políticas públicas.
Em muitos casos, o foco era o equilíbrio fiscal para os ricos, enquanto os pobres pagavam a conta do ajuste.

O voto popular é progressista — a estrutura do poder, conservadora

A partir de 1989, com a redemocratização, o povo brasileiro mostrou claramente sua preferência: nas seis eleições presidenciais diretas realizadas entre 2002 e 2022, a esquerda venceu cinco.
Isso demonstra uma tendência popular à justiça social e ao fortalecimento do Estado como garantidor de direitos, mesmo enfrentando uma estrutura política, econômica e midiática majoritariamente conservadora.

Enquanto a direita manteve privilégios e exclusões, a esquerda construiu oportunidades.
Foi no governo de esquerda que o filho do pedreiro virou engenheiro, o agricultor familiar teve crédito para produzir e o jovem pobre entrou na universidade.

E isso explica o incômodo de muitos setores privilegiados: quando o povo sobe, o poder tradicional se sente ameaçado.

Quem governa para o povo, governa com o povo

A história brasileira é clara e os números não mentem:

84% de governos de direita e 10% de esquerda;
Mas foi nesses 10% que o Brasil mais cresceu, distribuiu renda e promoveu justiça social.

Quando o povo escolhe, o Brasil melhora.
Porque a verdadeira transformação não nasce da força de quem manda mas da coragem de quem acredita em um país que é de todos.

Por Cláudio Ramos
Radialista e estudante de Jornalismo. 

 Matéria publicada no blog: “Cidades do Maciço dia-a-dia”, novembro de 2025.

 





domingo, 2 de novembro de 2025

CEARÁ: DO ABANDONO À REFERÊNCIA NACIONAL EM EDUCAÇÃO

 


Por muitos anos, o Ceará foi um dos estados mais esquecidos pelos governantes, convivendo com altos índices de analfabetismo e abandono escolar. Mas essa realidade mudou completamente.

Hoje, os números mostram um novo Ceará  um estado que virou referência nacional em educação, alcançando a meta que o Governo Federal pretende atingir apenas em 2030.

Com apenas 14,69% de analfabetismo infantil, o Ceará superou Estados muito mais ricos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
O segredo desse avanço está em políticas públicas planejadas, na formação continuada de professores, no Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC) e na implantação das escolas de tempo integral, que transformaram o ensino público.

Reconhecendo essa experiência de sucesso, o Presidente Lula nomeou Camilo Santana e sua equipe para liderar a expansão desse modelo em todo o país, com o objetivo de garantir alfabetização de qualidade para todas as crianças brasileiras.

O Ceará provou que investir em educação é o caminho que transforma nações o mesmo caminho trilhado por países que deixaram o subdesenvolvimento e alcançaram o progresso.


Educar é libertar. E o Ceará está mostrando ao Brasil como se faz.


sábado, 1 de novembro de 2025

Operações no Rio e em São Paulo expõem contrastes no combate ao crime organizado

Operação Contenção contra o CV no RJ



O combate ao crime organizado no Brasil voltou ao centro do debate nacional após duas grandes operações realizadas recentemente em diferentes contextos e com resultados que expõem caminhos opostos no enfrentamento à violência e à criminalidade estruturada.

No Rio de Janeiro, a Operação Contenção teve como alvo o Comando Vermelho, facção que domina áreas importantes da capital fluminense. A ação, que ocorreu na terça-feira (28), mobilizou 2,5 mil agentes das Polícias Civil e Militar, com o objetivo de cumprir 100 mandados de prisão e 150 de apreensão.

Os números, porém, revelam o alto custo humano e a falta de integração estratégica que marcaram a operação:

📌 133 prisões
📌 118 armas apreendidas
📌 Uma tonelada de drogas
📌 Oito motos apreendidas
📌 121 mortos, sendo quatro policiais

A operação, centrada na força e na ocupação territorial, terminou com saldo trágico e questionamentos sobre o uso da violência e a ausência de planejamento integrado entre as forças de segurança e órgãos de inteligência.

Operação Carbono oculto contra o PCC-SP


Em contraponto, no dia 28 de agosto, coincidentemente o mesmo dia 28, a Operação Carbono Oculto, conduzida em oito estados brasileiros, mostrou um modelo mais técnico e articulado de combate ao crime. O foco foi o esquema financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), buscando atingir o núcleo econômico que sustenta as atividades ilícitas da organização.

Com 1,4 mil agentes e 350 alvos, a ação envolveu uma ampla rede institucional: Ministério Público de São Paulo (Gaeco), Receita Federal, Polícias Civil e Militar, Secretaria da Fazenda e Planejamento (Sefaz), Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Procuradoria-Geral do Estado (PGE-SP).

Os resultados reforçam a eficiência do trabalho planejado e cooperativo:

📌 R$ 235 mil em espécie apreendidos
📌 Bloqueio de R$ 359 milhões, sendo R$ 68 milhões de uma fintech
📌 Bloqueio de R$ 8 bilhões relacionados à sonegação fiscal estadual
📌 Nenhuma morte registrada


A comparação entre as duas operações é inevitável, enquanto a Operação Contenção expõe os efeitos de uma política de segurança pública ainda pautada pelo confronto armado e pela ausência de inteligência integrada, a Operação Carbono Oculto comprova que o planejamento, o cruzamento de informações e a parceria entre órgãos de Estado produzem resultados mais eficazes, sustentáveis e sem derramamento de sangue.

O contraste mostra que o futuro da segurança pública no Brasil não está na guerra declarada contra as comunidades, mas na inteligência estratégica e no desmonte financeiro das facções criminosas, atacando o coração econômico do crime e não a periferia da tragédia social.

 Por Claudio Ramos – Radialista e estudante de Jornalismo

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