Por Claudio Ramos – Radialista e estudante de Jornalismo
A operação que terminou com 121 mortos expõe
mais uma vez a face brutal de um país que se recusa a enfrentar as causas reais
da violência.
A operação policial realizada em 28 de
outubro de 2025, nas favelas da Penha e do Complexo do Alemão,
no Rio de Janeiro, terminou com 121 mortos, entre eles quatro
policiais.
Um número que, por si só, já é o retrato de uma tragédia anunciada. Mas por
trás desses números frios, há histórias interrompidas, famílias destruídas e
uma ferida social que se renova a cada incursão armada nas periferias do país.
O episódio reacendeu um debate que divide o
Brasil: de um lado, os que enxergam na ação policial uma “guerra justa” contra
o crime; de outro, os que denunciam o massacre de uma população que já vive sob
o jugo da pobreza, da ausência do Estado e da violência cotidiana.
O que muitos chamam de “combate ao tráfico”, outros reconhecem como política
de extermínio direcionada, quase
sempre, ao mesmo grupo social: negros, pobres e favelados.
O Comando Vermelho, facção que domina
grande parte das favelas cariocas, é apresentado como o inimigo a ser
eliminado. Mas a pergunta que ecoa é: quem alimenta esse inimigo?
A resposta é incômoda. O tráfico nasce e cresce nos becos onde o Estado não
chega onde não há escola de qualidade,
posto de saúde, saneamento, lazer ou emprego digno.
Onde o único rosto do poder público é o do policial fortemente armado que
entra, atira e sai, deixando corpos e medo.
Enquanto isso, milhares de mães vivem a
rotina exaustiva de uma jornada 6x1, saindo de casa antes do amanhecer e
voltando à noite, depois de enfrentar até duas horas de transporte precário.
No caminho, deixam os filhos sozinhos, expostos ao cotidiano da favela um espaço onde o tráfico impõe regras, exibe
armas e vende a ilusão de poder e pertencimento.
É nesse vácuo deixado pelo Estado que o crime se infiltra e seduz. Não por
escolha, mas por sobrevivência.
Ainda assim, o discurso fácil da extrema
direita prospera: “bandido bom é bandido morto.”
É uma narrativa que ignora a complexidade social e transforma a vida de
jovens periféricos em estatística descartável.
É mais fácil justificar o tiro do que construir uma política pública.
É mais fácil aplaudir a morte do que cobrar investimentos em educação, cultura
e trabalho.
É mais fácil culpar a favela do que admitir que ela é o espelho mais fiel da
desigualdade brasileira.
A tragédia da Penha e do Alemão não é um
episódio isolado.
É o retrato de um país que naturalizou a morte dos seus pobres e se recusa a
enfrentar as causas reais da violência.
Enquanto a polícia continuar sendo o único braço visível do Estado nas favelas,
o ciclo da morte vai se repetir e cada operação será mais uma sentença coletiva
contra um povo que só queria o direito de viver
Baturité, 08/11/2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário