sábado, 8 de novembro de 2025

A Favela Sob Tiroteio: Quando o Estado Escolhe Quem Deve Morrer

 



Por Claudio Ramos – Radialista e estudante de Jornalismo

A operação que terminou com 121 mortos expõe mais uma vez a face brutal de um país que se recusa a enfrentar as causas reais da violência.

A operação policial realizada em 28 de outubro de 2025, nas favelas da Penha e do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, terminou com 121 mortos, entre eles quatro policiais.


Um número que, por si só, já é o retrato de uma tragédia anunciada. Mas por trás desses números frios, há histórias interrompidas, famílias destruídas e uma ferida social que se renova a cada incursão armada nas periferias do país.

O episódio reacendeu um debate que divide o Brasil: de um lado, os que enxergam na ação policial uma “guerra justa” contra o crime; de outro, os que denunciam o massacre de uma população que já vive sob o jugo da pobreza, da ausência do Estado e da violência cotidiana.




O que muitos chamam de “combate ao tráfico”, outros reconhecem como política de extermínio  direcionada, quase sempre, ao mesmo grupo social: negros, pobres e favelados.

O Comando Vermelho, facção que domina grande parte das favelas cariocas, é apresentado como o inimigo a ser eliminado. Mas a pergunta que ecoa é: quem alimenta esse inimigo?


A resposta é incômoda. O tráfico nasce e cresce nos becos onde o Estado não chega  onde não há escola de qualidade, posto de saúde, saneamento, lazer ou emprego digno.
Onde o único rosto do poder público é o do policial fortemente armado que entra, atira e sai, deixando corpos e medo.

Enquanto isso, milhares de mães vivem a rotina exaustiva de uma jornada 6x1, saindo de casa antes do amanhecer e voltando à noite, depois de enfrentar até duas horas de transporte precário.


No caminho, deixam os filhos sozinhos, expostos ao cotidiano da favela  um espaço onde o tráfico impõe regras, exibe armas e vende a ilusão de poder e pertencimento.
É nesse vácuo deixado pelo Estado que o crime se infiltra e seduz. Não por escolha, mas por sobrevivência.

Ainda assim, o discurso fácil da extrema direita prospera: “bandido bom é bandido morto.”
É uma narrativa que ignora a complexidade social e transforma a vida de jovens periféricos em estatística descartável.


É mais fácil justificar o tiro do que construir uma política pública.
É mais fácil aplaudir a morte do que cobrar investimentos em educação, cultura e trabalho.
É mais fácil culpar a favela do que admitir que ela é o espelho mais fiel da desigualdade brasileira.

A tragédia da Penha e do Alemão não é um episódio isolado.
É o retrato de um país que naturalizou a morte dos seus pobres e se recusa a enfrentar as causas reais da violência.


Enquanto a polícia continuar sendo o único braço visível do Estado nas favelas, o ciclo da morte vai se repetir e cada operação será mais uma sentença coletiva contra um povo que só queria o direito de viver

Baturité, 08/11/2025.

 

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