Por muito
tempo, o Nordeste brasileiro foi condenado a viver como uma nota de rodapé no
projeto de país. Era lembrado apenas em épocas de seca, tragédias e estigmas.
Faltavam políticas públicas, investimentos estruturantes e, sobretudo, vontade
política de romper com o abandono histórico. Foi preciso que um nordestino
chegasse à Presidência da República para que esse ciclo começasse a ser
quebrado.
Luiz Inácio
Lula da Silva, eleito em 2002, reeleito em 2006 e de volta ao cargo em 2023,
mudou a lógica do poder central. Lula ousou olhar o Brasil a partir das suas
periferias e direcionou recursos e políticas para onde o país mais sangrava. Ao
equilibrar repasses federais e fortalecer programas sociais, o governo passou a
enxergar o povo nordestino não como peso, mas como potência.
E os
resultados dessa virada histórica agora falam por si. Segundo o Centro de
Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste, da Fundação Getúlio Vargas (FGV
Ibre), a extrema pobreza no Brasil caiu pela metade entre 2021 e 2023 passando de 19,2 milhões para 9,5 milhões de pessoas. Metade dessa redução veio
justamente do Nordeste, a região tantas vezes ignorada.
Para
entender a dimensão, o estudo considera extremamente pobres os que vivem com
até R$ 209 por mês por pessoa ou seja, uma família de quatro membros sobrevive
com R$ 836 mensais para moradia, comida, luz, transporte e remédios. A Bahia
concentra 1,32 milhão de pessoas nessa condição, enquanto o Maranhão tem a
maior taxa proporcional, com quase 13% da população ainda em extrema pobreza.
Mas mesmo diante desses desafios, os avanços são expressivos: o Ceará reduziu
em 40,4% e o Rio Grande do Norte em 56,9% a extrema pobreza entre 2021 e 2023.
Os
especialistas alertam que o Nordeste não é um bloco homogêneo e que as
políticas precisam respeitar as realidades de cada estado. Mas há um consenso:
programas de transferência de renda são decisivos para enfrentar a pobreza.
Como disse o economista Flávio Ataliba Barreto, da FGV Ibre, “os números
mostram que os programas de transferência de renda têm impacto forte na pobreza
e na extrema pobreza”.
Esse não é
apenas um debate sobre estatísticas, mas sobre escolhas. Quando o Brasil decide
investir no Nordeste, a pobreza recua. Quando a política enxerga os invisíveis,
vidas mudam. E quando o país entende que desenvolvimento não pode ser
privilégio de poucos, o Nordeste deixa de ser retrato da exclusão e passa a ser
símbolo de resistência, superação e esperança.
O Nordeste
de hoje não quer mais piedade quer respeito. E está provando que justiça social
também pode e deve ter sotaque nordestino.
Baturité,
12 de setembro de 2025