sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Quando o Brasil olha para o Nordeste, a pobreza recua Por: Claudio Ramos

 


Por muito tempo, o Nordeste brasileiro foi condenado a viver como uma nota de rodapé no projeto de país. Era lembrado apenas em épocas de seca, tragédias e estigmas. Faltavam políticas públicas, investimentos estruturantes e, sobretudo, vontade política de romper com o abandono histórico. Foi preciso que um nordestino chegasse à Presidência da República para que esse ciclo começasse a ser quebrado.

Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2002, reeleito em 2006 e de volta ao cargo em 2023, mudou a lógica do poder central. Lula ousou olhar o Brasil a partir das suas periferias e direcionou recursos e políticas para onde o país mais sangrava. Ao equilibrar repasses federais e fortalecer programas sociais, o governo passou a enxergar o povo nordestino não como peso, mas como potência.

E os resultados dessa virada histórica agora falam por si. Segundo o Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste, da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), a extrema pobreza no Brasil caiu pela metade entre 2021 e 2023 passando de 19,2 milhões para 9,5 milhões de pessoas. Metade dessa redução veio justamente do Nordeste, a região tantas vezes ignorada.



Para entender a dimensão, o estudo considera extremamente pobres os que vivem com até R$ 209 por mês por pessoa ou seja, uma família de quatro membros sobrevive com R$ 836 mensais para moradia, comida, luz, transporte e remédios. A Bahia concentra 1,32 milhão de pessoas nessa condição, enquanto o Maranhão tem a maior taxa proporcional, com quase 13% da população ainda em extrema pobreza. Mas mesmo diante desses desafios, os avanços são expressivos: o Ceará reduziu em 40,4% e o Rio Grande do Norte em 56,9% a extrema pobreza entre 2021 e 2023.

Os especialistas alertam que o Nordeste não é um bloco homogêneo e que as políticas precisam respeitar as realidades de cada estado. Mas há um consenso: programas de transferência de renda são decisivos para enfrentar a pobreza. Como disse o economista Flávio Ataliba Barreto, da FGV Ibre, “os números mostram que os programas de transferência de renda têm impacto forte na pobreza e na extrema pobreza”.

Esse não é apenas um debate sobre estatísticas, mas sobre escolhas. Quando o Brasil decide investir no Nordeste, a pobreza recua. Quando a política enxerga os invisíveis, vidas mudam. E quando o país entende que desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos, o Nordeste deixa de ser retrato da exclusão e passa a ser símbolo de resistência, superação e esperança.

O Nordeste de hoje não quer mais piedade quer respeito. E está provando que justiça social também pode e deve ter sotaque nordestino.

Baturité, 12 de setembro de 2025

 

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