terça-feira, 16 de setembro de 2025

Câmara dos Deputados retoma PEC da Blindagem e expõe distanciamento da pauta nacional

 


Em um momento em que o país enfrenta desafios urgentes nas áreas social, econômica e ambiental, a Câmara dos Deputados decidiu ressuscitar, nesta terça-feira (16), a chamada PEC da Blindagem — uma proposta que, longe de atender aos interesses coletivos, mira na proteção de parlamentares e dirigentes partidários contra processos judiciais. A medida, trazida de volta ao debate pelo deputado Hugo Motta, surge como moeda de troca em meio a um impasse político que trava a pauta da Casa e escancara um preocupante descolamento entre a classe política e a sociedade que a elegeu.

O texto da PEC prevê a exigência de autorização prévia do Congresso para abertura de processos criminais contra deputados e presidentes de partidos, além de instituir voto secreto em casos de prisão em flagrante de parlamentares — mecanismo que enfraquece a transparência e dificulta a responsabilização dos eleitos. Como destacou a analista política Malu, “hoje o voto é aberto, então a sociedade fica sabendo quem foi a favor de prisão em flagrante e quem não foi, foi o que aconteceu no caso do Chiquinho Brazão. Isso facilita mais ainda você blindar o deputado”.

Mais do que um debate sobre regras internas, o avanço da PEC revela um cenário de paralisia proposital, no qual projetos de real interesse público são deixados em segundo plano para dar lugar a disputas corporativistas. O atual impasse é sintomático: o PL se recusa a votar a PEC da Blindagem sem garantias de que a anistia a partidos será aprovada; o Centrão, por sua vez, não vota a anistia sem a aprovação prévia da blindagem. Um ciclo de barganhas que nada oferece à sociedade.

Enquanto isso, propostas de enorme impacto social seguem empacadas na Câmara, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, medida que beneficiaria diretamente cerca de 20 milhões de trabalhadores brasileiros, e o projeto que busca reduzir o custo da energia elétrica para os consumidores, além da aguardada PEC da Segurança, que trata de políticas estruturais para a área. Todas essas matérias, de interesse direto da população, estão sendo deixadas de lado para que os próprios deputados priorizem um escudo contra a Justiça.

A crítica de Malu expõe o vácuo de liderança na Câmara: “Tem que tomar uma iniciativa e arbitrar, ou pelo menos organizar um acordo transparente para a sociedade... Na verdade, está todo mundo tentando se aproveitar da fraqueza do presidente da Câmara para fazer o que quer. Isso na política não funciona. Tem que tomar decisões e desagradar determinados grupos. É arcar com o desgaste de ter poder”.

Ao priorizar uma proposta que busca blindar políticos da Justiça, em detrimento de reformas estruturais e de políticas que poderiam melhorar a vida da população, o Congresso dá um recado claro: a lógica do autointeresse está se sobrepondo à função pública. O texto que agora tramita no Plenário, apresentado por Hugo Motta e avalizado em conversas com ministros do Supremo, é visto como uma tentativa de ganhar tempo e evitar o avanço da anistia partidária, mas o custo é alto: mais descrédito e mais distanciamento da sociedade.

Em vez de proteger seus próprios membros, a Câmara deveria se concentrar em proteger os interesses do país. Ao insistir na PEC da Blindagem, os deputados correm o risco de aprofundar a crise de confiança nas instituições democráticas — um desgaste que não será resolvido com manobras regimentais, mas com responsabilidade, transparência e coragem de enfrentar as pautas que realmente importam ao Brasil.

Claudio Ramos

 


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