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A atuação da extrema-direita e do Centrão no Congresso Nacional, durante o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, expõe uma contradição que já não pode mais ser ignorada. Enquanto esses grupos se apresentam publicamente como defensores intransigentes da lei, da ordem e da segurança pública, suas ações no Legislativo apontam para outra prioridade: aliviar punições, relativizar crimes e criar atalhos para beneficiar os responsáveis pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A tentativa de reescrever a história daquele dia tratado por setores do Parlamento como “excesso de punição” ou “perseguição política” representa um risco institucional grave. Não se tratou de manifestação política ou desordem pontual, mas de um ataque coordenado às bases da democracia brasileira. Ainda assim, parte expressiva do Congresso tem se mobilizado para reduzir penas, flexibilizar responsabilidades e abrir espaço para uma anistia disfarçada aos envolvidos, incluindo lideranças políticas que estimularam ou se omitiram diante da tentativa de golpe.
O paradoxo se agrava quando se observa o tratamento dado às políticas de segurança pública. A segurança sempre foi uma das principais bandeiras eleitorais da extrema-direita. No entanto, quando projetos concretos chegam ao Parlamento, o comportamento muda. Propostas como o PL Antifacção, fundamental para o enfrentamento do crime organizado, e a PEC da Segurança Pública, que busca integrar esforços entre União, estados e municípios, foram esvaziadas ou empurradas para 2026.
Não se trata de falta de tempo ou de prioridade legislativa. Trata-se de escolha política. Ao mesmo tempo em que há rapidez e articulação para pautas que interessam à autoproteção de grupos políticos, temas estruturantes para a segurança da população são sistematicamente adiados ou fragilizados.
O Centrão, mais uma vez, cumpre o papel de fiel da balança, mas sem compromisso com um projeto nacional. Seu pragmatismo tem servido para blindar interesses eleitorais e preservar alianças circunstanciais, mesmo que isso signifique comprometer a estabilidade institucional e esvaziar políticas públicas fundamentais.
A consequência desse comportamento é perigosa. Ao minimizar crimes contra o Estado Democrático de Direito e postergar soluções reais para a segurança pública, o Congresso transmite à sociedade uma mensagem equivocada: a democracia pode ser atacada sem punição severa, desde que haja força política suficiente para negociar no Parlamento.
Editorialmente, é preciso afirmar com clareza: segurança pública não pode ser apenas discurso de campanha, nem a democracia pode ser moeda de troca política. O país exige coerência, responsabilidade e compromisso com o interesse público não retórica vazia e acordos que colocam a própria democracia em risco.
Claudio Ramos
Radialista e estudante de Jornalismo
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