O Hospital e Maternidade José Pinto do
Carmo, localizado em Baturité, Ceará, representa muito mais que uma
estrutura física: é um símbolo de resistência e esperança para milhares de
famílias do Maciço de Baturité. Por décadas, foi referência em atendimento
obstétrico, pré-natal e pediátrico, garantindo acesso à saúde em uma região
que, como tantas outras no Brasil, enfrenta carências históricas. No entanto,
sua trajetória revela os desafios estruturais que permeiam o sistema público de
saúde — desafios que vão além da medicina e mergulham na política, na gestão e
no compromisso social.
A importância do hospital transcende números. Suas
paredes testemunharam nascimentos, salvaguardaram vidas e acolheram comunidades
que dependem dele como único recurso para cuidados essenciais. Não podemos deixar de reconhecer os méritos da administrações que se sucederam na sua existência. Contudo, ao
longo dos anos, problemas financeiros minaram sua capacidade operacional. A Região do Maciço reconhece sua relevância, A
dependência de recursos estaduais e municipais, muitas vezes insuficientes,
obrigou a administração a apelar para a solidariedade da população, com bingos
e eventos beneficentes. Essa realidade expõe uma triste contradição: instituições
vitais, como o José Pinto do Carmo, sobrevivem à margem de soluções paliativas
em um sistema que deveria ser sustentado por políticas públicas robustas.
A Desapropriação e a Promessa de
Renovação
O Decreto nº 36.241, de 8 de outubro de
2024, que desapropriou o hospital em favor do Estado do Ceará, marca um divisor
de águas. A decisão, anunciada em meio a discursos de renovação, reflete tanto
uma necessidade urgente quanto uma oportunidade histórica. Como destacou o
prefeito Hérberlh Mota, assumir a gestão do hospital é "um
sonho antigo da população". Entre os compromissos anunciados estão a
reabertura do centro cirúrgico, o reforço na maternidade e pediatria, e a
ampliação de atendimentos clínicos — metas que, se cumpridas, podem transformar
o local em um modelo de eficiência e humanização.
No entanto, a desapropriação também traz à tona
perguntas incômodas:
- Por que uma instituição tão relevante
chegou ao limite do colapso?
- Como garantir que a nova gestão não
repita os erros do passado?
O prefeito reconhece a responsabilidade ao
afirmar: "Assumimos os bônus e os ônus". A fala é
emblemática, pois evidencia que a revitalização do hospital não depende apenas
de verbas, mas de transparência, planejamento de longo
prazo e participação social.
A trajetória do Hospital José Pinto do Carmo
oferece lições cruciais:
- A saúde pública é um direito, não um
favor: A dependência de campanhas para
arrecadar recursos revela a fragilidade de um sistema que deveria ser
prioridade absoluta.
- A colaboração entre esferas de governo é
vital: O apoio do governador Elmano de
Freitas ao processo de desapropriação mostra que parcerias podem
romper ciclos de negligência.
- A comunidade é protagonista: A população, que por anos ajudou a manter o hospital de pé,
precisa ser ouvida nas decisões sobre seu futuro.
A reabertura do centro cirúrgico e a ampliação de
serviços são passos importantes, mas simbólicos. O verdadeiro desafio está em
garantir que o Hospital José Pinto do Carmo não apenas renasça, mas se torne
um legado duradouro de acesso à saúde digna. Isso exigirá não
apenas investimentos, mas uma mudança de cultura: substituir a gestão
emergencial por um modelo sustentável, capaz de honrar a história da
instituição e as vidas que dela dependem.
Que este novo capítulo sirva de
alerta e inspiração: a saúde pública só floresce quando tratada como pauta
prioritária, nunca como moeda de troca política. O povo de Baturité, e todo o
Maciço, merecem mais que promessas — merecem um sistema que preserve vidas com
competência e respeito.
Matéria: Radialista Claudio Ramos
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