A polarização política no Brasil, frequentemente simplificada como uma disputa entre "Bolsonarismo" e "Lulismo", é um fenômeno que divide não apenas a classe política, mas também a sociedade. Segundo uma pesquisa recente do Datafolha (2023), 78% dos brasileiros acreditam que o país está mais dividido hoje do que há cinco anos, com 62% afirmando que essa divisão se reflete em conflitos familiares e sociais. Esse cenário de polarização extrema vai além de meras preferências ideológicas; ele reflete visões de mundo, projetos de sociedade e prioridades diametralmente opostas, que se manifestam não apenas no discurso, mas também nas ações concretas de cada grupo. Uma análise dos acontecimentos factuais recentes revela contrastes profundos entre essas duas correntes, tanto no que diz respeito às políticas públicas quanto aos valores democráticos que defendem.
De um lado, há um conjunto da sociedade e setores da esquerda brasileira que, independentemente de divergências internas, têm demonstrado respeito inquestionável pelos resultados eleitorais. A legitimidade das urnas não é posta em dúvida, e a democracia é entendida como um valor intocável. Esse grupo tem priorizado políticas sociais que visam reduzir desigualdades históricas, como o fortalecimento do Bolsa Família, a retomada do Minha Casa Minha Vida, o investimento em programas de saúde pública, como as Farmácias Populares, e a valorização do salário mínimo com ganhos reais. Além disso, há um compromisso claro com a educação, a ciência e a cultura, entendidos como pilares fundamentais para o desenvolvimento do país. Programas como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o combate à inflação também são bandeiras que refletem uma preocupação com o crescimento econômico aliado à justiça social.
Do outro lado, o Bolsonarismo, que durante seu governo congelou o salário mínimo por quatro anos, reduzindo o poder de compra dos trabalhadores, e promoveu cortes significativos em programas sociais, educacionais e científicos. A gestão foi marcada por um desmonte de políticas públicas essenciais, como o enfraquecimento do Minha Casa Minha Vida e a diminuição do investimento em educação, o que gerou críticas generalizadas de especialistas e da sociedade civil. Além disso, a postura em relação à democracia foi frequentemente questionada, culminando em tentativas de deslegitimação das eleições e, mais grave ainda, em um plano golpista que buscava derrubar a ordem democrática através de um suposto golpe militar. Esse episódio, amplamente noticiado e documentado, revela uma visão de poder que não aceita a alternância política, um traço autoritário que contrasta fortemente com os princípios democráticos.
Outro ponto de divergência é a relação com o país e sua identidade. Enquanto um lado defende a soberania nacional e a valorização das riquezas e potencialidades brasileiras, o outro parece alinhar-se de forma subserviente a interesses estrangeiros, muitas vezes em detrimento do desenvolvimento interno. A defesa da Amazônia, por exemplo, tornou-se um símbolo dessa disputa: de um lado, há um discurso de preservação e sustentabilidade; do outro, uma visão que prioriza a exploração desregrada dos recursos naturais, muitas vezes em benefício de grupos econômicos externos.
Essas observações, baseadas em fatos amplamente noticiados, mostram que a polarização no Brasil não se resume a uma simples disputa partidária. Ela reflete projetos de país antagônicos: um que busca a inclusão social, a valorização do trabalho, a defesa da democracia e o desenvolvimento sustentável; e outro que prioriza interesses específicos, desmonta políticas públicas essenciais e flerta com o autoritarismo. A escolha entre esses caminhos não é apenas política, mas também ética e civilizatória. Cabe à sociedade, diante desses fatos, refletir sobre qual projeto melhor representa seus anseios e o futuro que deseja construir para o Brasil.
Claudio Ramos
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