O
pagamento ─ que envolveu dinheiro, cessões territoriais na Índia e o controle
sobre o comércio do chamado Sal de Setúbal – correspondeu à época a 63
toneladas de ouro, como conta Evaldo Cabral de Mello, historiador e imortal da
Academia Brasileira de Letras (ABL), no livro O
negócio do Brasil, que está sendo relançado em uma nova edição ilustrada pela
Editora Capivara, de Pedro Correia do Lago, ex-presidente da Fundação
Biblioteca Nacional. A edição original foi lançada em 1998.
Em valores atuais, o
montante equivaleria a 480 milhões de libras esterlinas (ou cerca de R$ 3 bilhões).
O cálculo foi feito à pedido da BBC Brasil por Sam Williamson, professor de
economia da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e
cofundador do Measuring Worth, ferramenta interativa que permite comparar o
poder de compra do dinheiro ao longo da história.
"Esta foi a
solução diplomática para um conflito militar. O pagamento fez parte da
negociação de paz. O que não quer dizer que a guerra não tenha sido
necessária", afirmou Cabral de Mello à BBC Brasil.
Os holandeses ocuparam o Nordeste por cerca de 30 anos, de 1630 a 1654,
em uma área que se estendia do atual Estado de Alagoas ao Estado do Ceará. Eles
também chegaram a conquistar partes da Bahia e do Maranhão, mas por pouco
tempo.
Por trás das invasões, havia o interesse sobre o controle do comércio e
comercialização do açúcar.
Isso porque, como conta Cabral de Mello, antes mesmo de ocupar o
Nordeste, os holandeses já atuavam na economia brasileira com o apoio de
Portugal, processando e refinando a cana-de-açúcar brasileira.
"Quando o reino português foi incorporado pela Espanha, essa
parceria acabou. Os espanhóis romperam esse acordo, que rendia altos lucros aos
holandeses. Além disso, a relação entre os holandeses e os espanhóis já não era
boa, já que a Holanda havia se tornado independente do império espanhol",
diz o historiador.
Cabral de Mello faz alusão a um momento histórico em particular, quando
a Holanda, que até então fazia parte do império espanhol na Europa, obteve sua
independência, em 1581.
A emancipação não foi bem recebida pelos espanhóis que, entre outras
medidas, encerraram a parceria que os holandeses tinham com os portugueses no
processamento e refino da cana-de-açúcar no Brasil, dado que, naquela ocasião,
Portugal havia se tornado parte do reino espanhol.
Nesse sentido, a invasão do Brasil pelos holandeses foi uma espécie de
"revanche" contra a Espanha.
Durante o período em que ocuparam parte do Nordeste, os holandeses foram
responsáveis por inúmeras mudanças importantes, inclusive urbanísticas,
principalmente durante o governo de Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou
Maurício de Nassau.
Com o intuito de transformar Recife na "capital das Américas",
Nassau investiu em grandes reformas, tornando-a uma cidade cosmopolita. Apesar
de benquisto, ele acabou acusado por improbidade administrativa e foi forçado a
voltar à Europa em 1644.
Após o fim da administração Nassau, a Holanda passou a exigir a
liquidação das dívidas dos senhores de engenho inadimplentes, o que levou à
Insurreição Pernambucana e que culminaria, mais tarde, com a expulsão dos
holandeses do Brasil.
Naquele ano, Portugal já havia se separado da Espanha, mas demorou em
enviar soldados para retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada em janeiro
de 1654.
Cabral de Mello, que é especialista no período de domínio holandês, diz
que a tese de que os holandeses foram expulsos pela valentia dos portugueses,
índios e negros "não é completa".
"Os senhores de engenho locais financiaram a luta pela expulsão dos
holandeses, já que deviam mundos e fundos à Companhia das Índias Ocidentais,
que lhes havia emprestado dinheiro. Eles, no entanto, não tinham como pagar a
dívida", explica o historiador.
"Os holandeses acabaram derrotados, mas não sem antes pressionar
Portugal pelo pagamento dessa dívida, inclusive chegando a bloquear o Tejo (Rio
Tejo). O pagamento não foi feito em ouro, mas um observador da época fez a
correspondência para o metal precioso".
"Portugal teve de pagar 10 mil cruzados (moeda da época) aos
holandeses. Também fez parte do acordo à transferência do controle de duas
possessões territoriais portuguesas na Índia ─ Cranganor e Cochim ─ e o
monopólio do comércio do Sal de Setúbal (matéria-prima importante para a
indústria holandesa para a salga do arenque)".
Cidades do Maciço.
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